quarta-feira, 16 de junho de 2010

"A LIBERDADE DE EXPRESSÃO AINDA É POSSIVEL"



Artigo publicado no site de mídia alternativa 'Oriente Médio Vivo', edição 66, 23/07/2007 - http://www.orientemediovivo.com.br/edicoes.php

A liberdade de expressão ainda é possível

Falar de uma mídia alternativa é admitir a deficiência do sistema de mídia atual, principalmente a força comercial que representa a mídia ocidental, em discutir e informar o público em geral. Com a incompetência recorrente da mídia de massa, cresceu a tendência das pessoas procurarem informações em outros locais, e não nos meios de comunicação corporativos, como a televisão e as principais revistas e jornais.

É muito triste e desesperançoso que, em uma época de guerras sem sentido, de elites e governantes corruptos e de um distanciamento crescente entre a minoria dos ricos e a vasta maioria dos pobres, a mídia corporativa ainda sente prazer em vender ao povo informações fabricadas, produzidas, ou seja, que já foram comercializadas de antemão por terceiros. No Brasil, por ser considerado pelos líderes mundiais como um país “em desenvolvimento”, a situação se agrava. Pelo país estar “em desenvolvimento”, a nossa mídia é também considerada “em desenvolvimento”, e aqueles que deveriam nos informar acabam cumprindo o papel das gigantes da mídia corporativa – principalmente as empresas estadunidenses.

Um dos maiores problemas causados por tal desinformação proporcionada pela mídia ocidental é encontrado no papel da cidadania, vital para se manter uma democracia saudável, e que requer um público educado e bem informado. Quando a esfera pública se torna apenas mais um fantoche da mídia corporativa, que tem seus lucros e despesas determinados por uma relação amigável com o Estado, transformações significativas na vida de pessoas vivendo sob sociedades democráticas se torna algo inatingível.

A mídia corporativa é, por definição, criada e sustentada por fundos corporativos, de indivíduos ricos cujo interesse maior é expandir suas riquezas. Não faz parte dos interesses de tal sistema de mídia garantir que a liberdade de expressão sirva como um veículo de liberdade pessoal e coletiva para a sociedade e, dessa forma, também não faz parte dos planos de tal mídia a formação de uma sociedade verdadeiramente democrática e saudável. Dessa forma, a mídia ocidental funciona como uma disseminadora de alienação, e não como um comunicador de informações. Ao contrário dos regimes intitulados como “teocráticos” ou “autoritários”, que supostamente sufocam o direito de expressão de modo generalizado, a conduta da mídia nas sociedades ocidentais é legítima de um ponto de vista legal: ela não viola qualquer lei escrita, mas o resultado final é o mesmo – a liberdade de expressão passa a ser apenas algo imaginado, para o nosso próprio conforto, mas inatingível.

Para ilustrar essa idéia, dois exemplos extremos serão utilizados – o Afeganistão sob o governo do Talibã, e os Estados Unidos sob o regime atual de George W. Bush. À primeira vista, são dois mundos diferentes, mas uma breve análise mostra que os dois têm mais semelhanças do que diferenças. No Afeganistão, parte da população sabia pouco sobre o “mundo de fora” porque televisores e rádios passaram a ser banidos em regiões que ofereciam resistência armada ao governo. Nos Estados Unidos, a maioria da população também não sabe muito sobre o “mundo de fora”. A percepção estadunidense do mundo que lhes cerca é completamente baseada em fragmentos de informação construída pela rede de notícias CNN (e suas dezenas de afiliadas) e por estereótipos criados pelo mundo fantasioso de Hollywood. O aspecto de alienação resultante é exatamente o mesmo nos dois casos. Para nações imperialistas como os Estados Unidos, em que o mais alto nível de avanço tecnológico militar é uma necessidade, tal alienação se torna um perigo para o resto da humanidade. Foi através dessa desinformação da mídia ocidental que, em poucas semanas, George W. Bush aumentou o apoio popular quanto a uma invasão do Iraque de menos de 30% para mais de 70% em 2003. Os resultados de tal irresponsabilidade podem ser vistos diariamente pela cobertura da própria mídia ocidental – são dezenas de civis inocentes mortos todos os dias.

É importante perceber que o sucesso da mídia alternativa, uma verdadeira resposta e crescente opção contra a mídia corporativa, depende do engajamento e suporte público, que deverá fazer as suas escolhas: com que tipo de informações se preocupar? Quem deverá ser ouvido? Devemos nos acomodar (como eles pretendem) ou devemos agir? Pelo menos quanto a isso, uma verdadeira democracia existirá.

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